Aos dezessete anos, a minha vida mudou para sempre.
Sei que há pessoas que se interrogam quando digo isto. Olham-me de modo
estranho como se a tentar perceber o que poderia ter acontecido nessa altura, embora raramente me
dê ao trabalho de explicar. Porque vivi aqui a maior parte da minha vida, não acho que tenha de
fazê-lo, a não ser à minha maneira, e isso levaria mais tempo do que a maioria das pessoas está
disposta a conceder-me. A minha história não pode ser resumida em duas ou três frases; não pode
ser apresentada sinteticamente de modo que as pessoas compreendam de imediato. Apesar de já
terem passado quarenta anos, os que ainda aqui vivem e que me conheceram naquele ano aceitam
sem perguntas a minha falta de explicação. De certa maneira, a minha história é também a história
deles, pois foi uma coisa pela qual todos passaram.
Porém, foi comigo que tudo se passou mais de perto.
Tenho cinqüenta e sete anos, mas ainda consigo lembrar-me de tudo o que sucedeu
naquele ano, até ao menor pormenor. Recordo-o várias vezes, dando-lhe vida de novo, e percebo
que quando o faço sinto sempre uma estranha combinação de tristeza e alegria. Há momentos em
que me apetece fazer com que os ponteiros do relógio andem para trás e livrar-me de toda essa
tristeza, mas tenho a sensação de que, se o fizesse, desapareceria também a alegria. Assim, fico com
as recordações à medida que elas surgem, aceitando-as todas, deixando que me guiem sempre que
possível. Isto acontece com mais freqüência do que eu gostaria de reconhecer.
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