O sonho
A luz que se filtrava pelas folhas do carvalho sagrado caía sobre os
ombros, o pescoço e o colo alvo da jovem ajoelhada junto ao arroio,
envolvendo-a numa dourada opalescência.
Ela estava com os braços mergulhados na água fresca, e os luminosos
reflexos de tons rosados desciam-lhe ao longo dos pulsos. Parecia
distraída. Mas, quando uma corça e sua cria aproximaram-se
cautelosamente da margem relvosa, estendeu impulsivamente as mãos
transbordantes e deu-lhes de beber.
Depois, ao sentir o contato macio do focinho dos animais, riu com a
cabeça tombada para trás e, sob a caricia do sol, seus cabelos
vermelho-dourados pareceram feitos de luz.
O homem que a observava, oculto pelos ramos das árvores, descobriu
uma felicidade intensa na quietude da cena deliciosa. Permaneceu
imóvel, sem outro pensamento que não o de contemplar a própria
beleza através daquela graciosa criatura. Depois, tomado do desejo
ardente de ouvir sua voz, saiu das sombras e aproximou-se com o andar
furtivo que herdara do pai.
A jovem não pressentiu sua presença até o instante em que ele
mergulhou os dedos em seus cabelos cor de bronze. Voltou-se então
com ar de surpresa, mas logo começou a sorrir, numa irradiação
interior que subiu gradualmente a seus imensos olhos cor de ametista.
— Bretão... — disse com voz suave e melodiosa, enquanto a corça
e seu filhote fugiam, assustados.
Seu rosto estava iluminado pelo sol, e ela parecia tão linda que ele
mal conseguiu murmurar:
— Nobre romana... Esperei demais.
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