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sexta-feira, 22 de março de 2013

Momento Trilha 002

Trilha enviada ao grupo no face pela Querida Adriana Reis:




Vídeo (música) que combina com romanceEnvio a cena do conto escrito por mim :
 A História de Nós Dois


Com necessidade de ficar sozinha, desceu as escadas e começou a caminhar pela propriedade sem de dar conta que seus passos a levavam em direção ao rio. Conforme a opressão em seu peito aumentava, seus passos se aceleravam, até que sem ao menos se dar conta, estava correndo.
Passado o breve torpor causado pela nova aparência da ex-freira, Caetano viu sua equipe reassumir o comportamento profissional, e assim que ela pisou fora da varanda, os homens reassumiram de imediato suas posições para garantir a segurança do perímetro.
Ele, “João” e “André”, a observavam a distância, respeitando a privacidade que ela não pedira em voz alta. Quando a viu correr em direção ao rio, todos os seus alarmes de perigo soaram e ao se dar conta que, já no rio, ela não diminuía o ritmo, praguejou em voz alta e saltou a varanda, correndo até ela.
A água do rio já havia estava na altura dos joelhos e molhava a barra do vestido, quando ele conseguiu alcançá-la. Ela sentiu braços indesejáveis a segurando, para no momento seguinte sentir suas costas baterem contra um corpo forte e quente.
- Me solta – pediu com a voz estrangulada.
- Não, não vou deixá-la fazer o que quer que esteja pensando em fazer. – disse apertando os braços em volta dela. A voz dele ofegante pela corrida, a dela pelo desespero.
- Não vou me matar. – esperneou tentado se soltar – só quero mergulhar. – disse quase sem fôlego.
- Não está em condições de mergulhar sem arriscar a própria vida.
- Me solta, não consigo respirar. – pediu com a voz entrecortada, sentindo a respiração ficar mais difícil a cada segundo. 
- Não estou provocando isso, é você mesma que está. – o tom de voz dele soara gentil dessa vez – Precisa deixar ir, liberar essa dor que está sentindo, deixa ir. – pedia baixinho junto a orelha dela.
- Não posso, não posso. – ela balançava a cabeça de um lado para outro, negando s si mesma a oportunidade de extravasar a dor excruciante que sentia.
- Deixa ir. – pediu mais uma vez
- Não posso, não consigo.
- Não vou soltar você, não vou deixá-la cair, confie em mim. – ele pressentiu a solidão dela, mas do que qualquer outra coisa, uma solidão que fez seu peito doer por ela.
- Não posso... somente os fracos choram, sou mais forte que tudo isso, sou mais forte que eles. – ela repetia como se rezasse um mantra. A negação nascida da dor e do desespero.
- Estou aqui e não vou a lugar nenhum. Prometo te segurar e se não agüentar, cairei com você. – disse sincero, assumindo um compromisso, não somente para aquele momento, sem saber ao certo o porquê o fazia.
- Não posso – dessa vez a voz soou fraca sem a convicção de antes e ele sentiu que a resistência estava no fim.
- Prometo – sussurrou ainda abraçado a ela e aguardou. Ela respirou fundo uma, duas, três vezes e aí explodiu num choro compulsivo, tão sofrido que o fez compreender pela primeira vez a expressão “de cortar o coração”. Sentia como se uma navalha retalhasse seu peito, a dor da traição daqueles em quem ela mais confiava e o medo de estar verdadeiramente sozinha, estava impresso em cada lágrima e som. Ele prometeu que aquele cardeal, de algum modo pagaria, por fazer alguém de alma tão cristalina passar por todo aquele sofrimento. Bem lentamente a fez ficar de frente para ele e agarrada a sua camisa, ela chorou em seu peito, sem conseguir esconder o quão vulnerável e frágil estava naquele momento. Pegou-a no colo e seguiu quase até a margem do rio. Quando estava somente com os pés cobertos pela água e com ela em seus braços, permitiu-se baixar até que ficou meio que sentado, com os pés e joelhos tocando o fundo do rio. Seguia falando com ela, mesmo sabendo que não o estava ouvindo e naquele momento era tudo o que precisava, sentir que não estava sozinha.
Maria da Anunciação sempre dissera a si mesma que a histeria era sinônimo de fraqueza, mas não conseguia parar de chorar, quando pensava ter controlado o choro, ele voltava com mais força. Chorava pela dor atual e pelas dores antigas, por frustração, revolta, humilhação. Não soube precisar por quanto tempo chorara e a partir de certo momento percebeu que Pedro lhe sussurrava algo, num tom gentil. Aos poucos, na medida que o choro diminuía começou a entender as palavras, de apoio e solidariedade, que aqueceu seu coração e a ajudou a recuperar o controle.
- Sente-se melhor? – ele perguntou depois de se certificar que ela enfim se acalmara.
- Sim, já pode me soltar agora. – disse constrangida por se descobrir praticamente sentada em seu colo. Quando ele atendeu seu pedido, se colocou de frente para ele
– Estamos molhados. – comentou não conseguindo se lembrar quando haviam voltado para a margem do rio. – Obrigada, por tudo.
- As ordens. – ele respondeu, ainda sem entender porque saíra correndo como um homem desesperado...

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